terça-feira, 1 de maio de 2012

LETRAMENTO NA CIBERCULTURA

Leitura e Escrita em Contexto Digital


LETRAMENTO NA CIBERCULTURA

“Programa Práticas de Leitura e Escrita na Contemporaneidade”

1ª Edição/2012
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
ESCOLA DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE PROFESSORES
“PAULO RENATO COSTA SOUZA”


Curso 1: Leitura e Escrita em Contexto Digital


A. APRESENTAÇÃO
1. A Secretaria de Estado da Educação, por meio da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores do Esta­do de São Paulo “Paulo Renato Costa Souza” (EFAP), apresenta a 1ª Edição de 2012 do Programa Práticas de Leitura e Escrita na Contemporaneidade – Curso 1: Leitura e Escrita em Contexto Digital.

B. OBJETIVO
    O Curso 1 do Programa Práticas de Leitura e Escrita na Contemporaneidade, Leitura e Escrita em Contexto Digital, tem como objetivos:
• Possibilitar aos educadores em formação o conhecimento e a utilização de novas tecnologias de comunicação e informação, por meio do uso de diversas mídias interativas, discutindo usos na continuidade em sua própria formação cultural e prática educativa;
• Refletir sobre e exercitar as diferentes capacidades e competências leitoras e de produção de textos e de lin­guagens, envolvidas na recepção e na produção de textos em diferentes gêneros que circulam em diversos contextos, suportes e mídias contemporâneos, com especial destaque para textos e disciplinas em gêneros de circulação na mídia digital (letramento digital), na esfera do jornalismo (impresso, televisivo, digital), na esfera das artes (literatura, música, cinema, artes plásticas), na esfera escolar e da divulgação da ciência (em especial, nas áreas do conhecimento contempladas na divisão disciplinar da distribuição do conhecimento na escola, i.e., Ciências da Natureza, Ciências Humanas e área de Linguagens e Códigos);
• Refletir sobre a transdisciplinaridade inerente às práticas letradas de linguagem nos espaços sociais contempo­râneos, de forma a possibilitar a transformação da realidade das disciplinas atuais que compõem o currículo da escola;
• Refletir e avaliar as práticas de linguagem e de letramento correntes do alunado dos Ensinos Fundamental e Médio, de maneira a esboçar propostas para o ensino mais condizentes com a realidade do alunado e que o encaminhem a práticas letradas cidadãs e contemporâneas.

C. HABILIDADES E COMPETÊNCIAS
    O curso pretende contribuir para o desenvolvimento das seguintes competências:
 Interpessoal – capacidades para interagir em contexto digital;
Comunicacional – construir capacidades para estabelecer diálogos por meio das ferramentas comunicacionais digitais, levando em conta aspectos éticos e de boa convivência;
Tecnológica – construir capacidades para utilização dos recursos tecnológicos que possibilitem exercitar a leitura e escrita em contexto digital;
De Conteúdo – ler e escrever em contexto digital, reconhecendo as particularidades do meio; entender o texto para além do código, como manifestação humana.

D. ESTRUTURA DO CURSO
   O curso contará com uma carga horária total de 60 horas.
   O conteúdo do curso será distribuído em dois períodos e quatro módulos, conforme descrição abaixo:

MÓDULO 1
Práticas de leitura e escrita de perfis pessoais na web, expressão de
opinião, depoimento, debate, apresentação para transação comercial e formulários.

CARGA HORÁRIA
15 horas à distância

PERÍODO/DURAÇÃO
Primeiro período/4 semanas
_________________________

MÓDULO 2
Trabalho com gêneros do discurso. Experiências em leitura e escrita. Criação e manutenção de blog.

CARGA HORÁRIA
15 horas à distância
_________________________

MÓDULO 3
Esfera de atividade e de gêneros do discurso. Reconhecimento de características de textos produzidos.

CARGA HORÁRIA
15 horas à distância

PERÍODO/DURAÇÃO
Segundo período/4 semanas
_________________________

MÓDULO 4
Conceitos de texto e de leitura. Capacidades envolvidas na leitura e produção de textos. Práticas pedagógicas correntes na escola, e o desenvolvimento das capacidades leitoras e escritoras.

CARGA HORÁRIA
15 horas à distância

Cada um dos módulos será acompanhado por professores tutores, no AVA-EFAP, que serão os responsáveis por sanar as dúvidas relativas aos conteúdos, fazer a interação nos fóruns, orientar os estudos, avaliar e validar as atividades postadas pelos cursistas.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Indicação de Blog de outros grupos

Estimados leitores deste blog, gostaria de indicar a leitura de outro blog de participantes de outros grupos deste mesmo curso. Abaixo segue o link para que vocês façam uma visita e leiam este blog. Vejam como ficou interessante o deles também!

http://praticandoa.blogspot.com.br/

Abaixo, seguem os outros indicados pela tutora do curso:

http://leitura-em-movimento.blogspot.com.br/

Mistério: Corpo é encontrado na porta de casa.


Mistério: Corpo é encontrado na porta de casa.

Um homem jovem, de idade ainda desconhecida, foi encontrado na porta de uma casa, no Jardim Aeroporto, Em Mogi das Cruzes, Grande SP. A moradora do imóvel, onde o corpo foi encontrado, mora sozinha.

Segundo a moradora, ao acordar e abrir os olhos pela manhã, consultou o relógio que se encontra na cabeceira de sua cama para ver se era hora de ir trabalhar. Ao levantar-se, foi imediatamente ao banheiro para se arrumar e escovar os dentes. Enquanto lavava o rosto, a campainha da porta tocou. Imediatamente, de acordo com a moradora, saiu correndo do banheiro, enxugando o rosto às pressas e caminhou até a porta. Como sempre faz, destrancou a fechadura da porta e, ao abrir a porta, viu um homem caído na soleira. Segundo a jovem moradora, Eliane dos Santos Leite, nunca havia se deparado com situação semelhante. De acordo com seu relato, correu o olhar em seu entorno e constatou que não havia ninguém mais no corredor onde sua casa se localiza e ninguém por perto, estando a rua deserta por ser muito cedo. Então, a moça resolveu abaixar-se e tocar o corpo com seus dedos. Ainda, segundo Eliane, sentindo que o corpo estava frio e rígido, constatou que se tratava de um cadáver que fora jogado em sua porta. A moradora afirma não conhecer o sujeito e a polícia diz que irá chamar a moradora para prestar depoimentos.
               
                De acordo com os relatos dos moradores, nunca houve uma ocorrência desse tipo no bairro sendo que a tranqüilidade é uma das características desse lugar. O crime chocou os moradores que ficaram assustados. A polícia está investigando todas as possibilidades que envolve este crime misterioso.

Este texto foi produzido, como parte da atividade avaliativa do grupo 6, para o curso Leitura e Escrita em Contexto Digital. Autora: ELIANE DOS SANTOS LEITE. Publicado no dia 30/04/2012.

domingo, 29 de abril de 2012

Uso funcional dos gêneros textuais que circulam socialmente

Gêneros textuais

Situação determina qual usar - Alfredina Nery*
Especial para a Página 3 - Pedagogia e Comunicação

Piadas, anúncios, poemas, romance, carta de leitor, notícia, biografia, requerimento, editorial, palestra, receita... São muitos os gêneros de texto que circulam por aí. São as situações que definem qual utilizar.
O que podemos fazer quando queremos:


  • saber como chegar a um endereço desconhecido por nós? Consultar o "guia de ruas" da nossa cidade, ou perguntar a alguém que conhece o trajeto...
  • escolher um filme para ir assistir no cinema? Pesquisar no jornal ou pedir opinião a um amigo...
  • conversar com parentes que estão longe? Telefonar, mandar carta ou e-mail...
  • criar um clima de descontração com amigos? Contar piadas, conversar...
  • distrair uma criança? ler um conto de fadas, brincar de adivinhações...

    Em todas as situações acima, usamos diferentes gêneros de texto(a definição de texto, aliás, é um enunciado verbal que faz sentido em para alguém em determinada situação). Situações diversas, finalidades diversas, diferentes gêneros. Não importa qual o gênero, todo texto pode ser analisado sob três características:
  • o assunto: o que pode ser dito através daquele gênero;
  • o estilo: as palavras, expressões, frases selecionadas e o modo de organizá-las;
  • o formato: a estrutura em que cada agrupamento textual é apresentado.
    Gênero literário e não literário
    Leia o poema a seguir
    Tributo a J.G.Rosa
    Passarinho parou de cantar.
    Essa é apenas uma informação.
    Passarinho desapareceu de cantar.
    Esse é um verso de J. G. Rosa.
    Desapareceu de cantar é uma graça verbal.
    Poesia é uma graça verbal.
    (Manuel de Barros. "Tratado das grandezas do ínfimo". Rio de Janeiro: Record, 2001)

    Você deve ter percebido que, no poema - um gênero textual -, o poeta do pantanal brasileiro, Manoel de Barros, distingue o verbo "parar" (cessar, acabar), como sendo "apenas uma informação" da expressão verbal "desapareceu de cantar" ou "uma graça verbal", que ele considera poesia.
    Pode-se dizer que o que distingue um texto não literário de um texto literário é o trabalho com a linguagem que este último apresenta. Nos gêneros literários há uma conexão interdependente entre "o que se diz" (o assunto/tema do texto) e o "como se diz" (a forma como o texto é dito).
    O texto literário (em prosa ou em verso) tem um trabalho muito maior com a linguagem, um modo singular e inventivo de o artista ver o mundo, expressando-o.
    Veja, por exemplo, a definição que o dicionário Houaiss dá para a palavra sabiá
    SABIÁ, substantivo de dois gêneros - designação comum às aves passariformes, da família dos muscicapídeos, subfamília dos turdídeos, cosmopolitas, que possuem plumagem de colorido simples, geralmente marrom, cinza ou preta, com as partes inferiores lisas ou manchadas; tordo [São muito apreciados pela beleza do canto.]

    Observe que a finalidade do verbete - outro gênero textual - é informar sobre o sabiá, dando uma definição do pássaro, e sua classificação gramatical.
    Tendo em mente o tema "sabiá", há vários tipos de texto possíveis: uma narração fictícia em que se contasse as aventuras de um sabiá, ou uma poesia que comentasse a beleza e a graça dessa ave. O dicionário, no entanto, oferece textos não literários, "secos", descritivos, em que a linguagem serve para ser exata, informar, e não florear.
    De maneira geral, podem-se distinguir assim os textos literário e não literário, ainda que, muitas vezes, as diferenças entre um e outro não sejam tão bem marcadas.
  • *Alfredina Nery é professora universitária, consultora pedagógica e docente de cursos de formação continuada para professores na área de língua,linguagem e leitura.

    Notícia para um jornal do tipo popular



    ATIVIDADE – GRUPO 6
    Baseando-se na sequência de eventos apresentada na proposta para a atividade, após o trabalho com gêneros textuais, cada cursando deveria escrever um texto, verificando o gênero textual que foi proposto para o grupo a que pertence. O nosso grupo deveria produzir uma notícia para um jornal do tipo popular.

    TEXTO 1

    MORTE SUSPEITA NA REGIÃO NORTE DE JUIZ DE FORA

    Na manhã de ontem (20), na região norte da cidade de Juiz de Fora - MG, na Rua Cantídio Alves, próximo à Santa Casa de Misericórdia, na Vila Nova, J.H.C., morador de um dos apartamentos do edifício São Cristóvão, encontrou um senhor, de aproximadamente 50 anos, caído na soleira de sua porta. Verificando que ele já estava sem vida, acionou a central da polícia. Ao chegarem ao local, os policiais, tendo constatado o fato, registraram Boletim de Ocorrência e encaminharam o cadáver ao Instituto Médico Legal (IML) local, para a realização de exame cadavérico.
    Questionada sobre o fato, a testemunha afirma que não conhecia a vítima e que a encontrou caída ali, depois que tocaram a campainha de sua casa, e relatou: “Tinha acabado de acordar, olhei no relógio e vi que já eram 7h30, pego no serviço às 8h. Quando estava me arrumando para ir trabalhar, ouvi a campainha tocar e, depressa, fui abrir a porta. Nesse momento, vi que tinha um homem magro e de cabelo branco caído no chão. Percebi também que havia muito sangue no chão, que provavelmente tinha saído do nariz ou da boca dele.”
    A testemunha afirma ainda que, após ter olhado em volta e não ter visto mais ninguém no corredor, abaixou-se e tocando a vítima com os dedos, sentiu que o corpo estava frio e rígido, foi quando ele constatou que o homem já estava morto, então ligou para a polícia.
    A vítima não portava documentos, o que está dificultando a sua identificação e, como a morte ocorreu em situação suspeita e não havendo indícios (pistas) de autoria, o delegado do 4.º DP (Distrito Policial), Hugo Abreu Santos, disse que se for constatado, por laudo médico do IML, que a morte não foi natural, vai abrir inquérito policial para apurar o fato.

    Jornal "Cotidiano Popular de Juiz de Fora", 21 de abril de 2012.
    Este texto foi produzido, como parte da atividade avaliativa do grupo 6, para o curso Leitura e Escrita em Contexto Digital.Autora: EDNA SILVEIRA CARDOSO CANCELLI VIEIRA. Publicado no dia 21/04/2012.
    ____________________________________

    TEXTO 2

    Mistério: Corpo é encontrado na porta de casa.


    Um homem jovem, de idade ainda desconhecida, foi encontrado na porta de uma casa, no Jardim Aeroporto, Em Mogi das Cruzes, Grande SP. A moradora do imóvel, onde o corpo foi encontrado, mora sozinha.

    Segundo a moradora, ao acordar e abrir os olhos pela manhã, consultou o relógio que se encontra na cabeceira de sua cama para ver se era hora de ir trabalhar. Ao levantar-se, foi imediatamente ao banheiro para se arrumar e escovar os dentes. Enquanto lavava o rosto, a campainha da porta tocou. Imediatamente, de acordo com a moradora, saiu correndo do banheiro, enxugando o rosto às pressas e caminhou até a porta. Como sempre faz, destrancou a fechadura da porta e, ao abrir a porta, viu um homem caído na soleira. Segundo a jovem moradora, Eliane dos Santos Leite, nunca havia se deparado com situação semelhante. De acordo com seu relato, correu o olhar em seu entorno e constatou que não havia ninguém mais no corredor onde sua casa se localiza e ninguém por perto, estando a rua deserta por ser muito cedo. Então, a moça resolveu abaixar-se e tocar o corpo com seus dedos. Ainda, segundo Eliane, sentindo que o corpo estava frio e rígido, constatou que se tratava de um cadáver que fora jogado em sua porta. A moradora afirma não conhecer o sujeito e a polícia diz que irá chamar a moradora para prestar depoimentos.

                De acordo com os relatos dos moradores, nunca houve uma ocorrência desse tipo no bairro sendo que a tranqüilidade é uma das características desse lugar. O crime chocou os moradores que ficaram assustados. A polícia está investigando todas as possibilidades que envolve este crime misterioso.
    Este texto foi produzido, como parte da atividade avaliativa do grupo 6, para o curso Leitura e Escrita em Contexto Digital. Autora: ELIANE DOS SANTOS LEITE. Publicado no dia 30/04/2012.

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    TEXTO 3 

    Jornal Clarim, 23 de abril de 2012.

    Corpo crivado de balas é encontrado no quintal de uma casa.

    Maria de Lourdes, 55, dona de casa, abre a porta da cozinha de sua casa, que dá acesso ao quintal, às 6h do dia 23/04/2012, no Jardim Aurora, zona leste de São Paulo, e depara-se com um homem cujo corpo se encontra crivado de balas, frio e rígido em meio a muito sangue, já seco. O cadáver aparenta ter 30 anos, alto, magro, de pele clara e cabelos ruivos, rosto magro e comprido.
    A dona de casa, atônita, liga para 190 e pede aos policiais que venham até a casa dela para retirar o corpo do homem desconhecido. Os policiais chegam à casa de dona Lourdes e, ao perceberem que ela está muito aflita, levam-na ao 5º Distrito Policial na zona oeste da capital para colher seu depoimento. O Delegado desse distrito desconfia de que a dona de casa tenha relação com o crime.

    Este texto foi produzido, como parte da atividade avaliativa do grupo 6, para o curso Leitura e Escrita em Contexto Digital.Autora: ADRIANA BRUNO MARONI. Publicado no dia 23/04/2012. 




    terça-feira, 17 de abril de 2012

    Letramento na cibercultura: um novo saber

    Letramento na cibercultura: um novo saber

    O artigo “Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura”, de Magda Soares, define, num primeiro momento, letramento, referindo-se às práticas de leitura e escrita no papel. Posteriormente, a autora reflete sobre “a escrita na cultura da tela - na cibercultura - o confronto entre tecnologias tipográficas e digitais de escrita e seus diferenciados efeitos sobre o estado ou condição de quem as utiliza”.
    Com essas novas práticas de letramento, como as evidenciadas pela autora, em seu texto, verificamos a necessidade de a escola também inseri-las em seu contexto, visto que, atualmente, o aluno se depara constantemente com  hipertextos na tela do computador, o que lhe exige uma leitura multilinear, várias possibilidades a seguir e, por falta de conhecimento ou por falta de orientação, ele, muitas vezes, adquire uma prática errônea com relação ao seu uso.
    Como a tecnologia está à disposição de muitos de nossos alunos, a cultura da escrita e leitura tipográficas ficou em segundo plano para muitos deles. Não digo com isso que tal cultura acabou ou está ultrapassada, pelo contrário, o professor deve incentivá-la cada vez mais, para que eles participem efetivamente da cultura letrada e tenham oportunidade de sucesso em suas vidas, porém não devemos nos esquecer de que estamos na era da informação e junto dela surgem tecnologias cada vez mais avançadas e, se queremos formar um cidadão que vai fazer parte dessa sociedade letrada e participar dela, devemos fazer com que ele tenha acesso, também, a elas e saiba usá-las.
    Portanto, ao lado da cultura da escrita e da leitura no papel, nossos alunos precisam ter acesso às novas práticas e novas habilidades de leitura e escrita, na tela, utilizando das tecnologias à sua disposição, o que lhes proporcionará novos conhecimentos, novas maneiras de ler, escrever e aprender, diferentes efeitos cognitivos, culturais e sociais; desde que bem orientados, para que saibam usar e selecionar, dentre as múltiplas opções a(s) que, realmente, lhes transmita(m) credibilidade e, acima de tudo, conhecimento.

    Edna Silveira Cardoso Cancelli Vieira


    Tecnologia

    Tecnologia

    Para começar, ele nos olha nos olha na cara. Não é como a máquina de escrever, que a gente olha de cima, com superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho. Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer. A máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo que seja a tapa. Com o computador é diferente. Você faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo dele, senão ele não aceita. Simplesmente ignora você. Mas se apenas ignorasse ainda seria suportável. Ele responde. Repreende. Corrige. Uma tela vazia, muda, nenhuma reação aos nossos comandos digitais, tudo bem. Quer dizer, você se sente como aquele cara que cantou a secretária eletrônica. É um vexame privado. Mas quando você o manda fazer alguma coisa, mas manda errado, ele diz “Errado”. Não diz “Burro”, mas está implícito. É pior, muito pior. Às vezes, quando a gente erra, ele faz “bip”. Assim, para todo mundo ouvir. Comecei a usar o computador na redação do jornal e volta e meia errava. E lá vinha ele: “Bip!” “Olha aqui, pessoal: ele errou.” “O burro errou!”
    Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe. Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer. Que ele só desenvolverá todo o seu potencial quando outro igual a ele o estiver programando. A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só agüentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria “bip” em público.
    Dito isto, é preciso dizer também que quem provou pela primeira vez suas letrinhas dificilmente voltará à máquina de escrever sem a sensação de que está desembarcando de uma Mercedes e voltando à carroça. Está certo, jamais teremos com ele a mesma confortável cumplicidade que tínhamos com a velha máquina. É outro tipo de relacionamento, mais formal e exigente. Mas é fascinante. Agora compreendo o entusiasmo de gente como Millôr Fernandes e Fernando Sabino, que dividem a sua vida profissional em antes dele e depois dele. Sinto falta do papel e da fiel Bic, sempre pronta a inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora, e que nele foi substituída por um botão, que, além de mais rápido, jamais nos sujará os dedos, mas acho que estou sucumbindo. Sei que nunca seremos íntimos, mesmo porque ele não ia querer se rebaixar a ser meu amigo, mas retiro tudo o que pensei sobre ele. Claro que você pode concluir que eu só estou querendo agradá-lo, precavidamente, mas juro que é sincero.
    Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina. Sabendo que ela agüentaria sem reclamar, como sempre, a pobrezinha.

    "A escola ideal" - Rubem Alves

    http://youtu.be/IEX9bOeTMZg